sábado, 22 de fevereiro de 2014

Texto originalmente publicado na Bate Papo Magazine

Cena 1: milhares de jovens, em sua maioria brancos de classe média, adentram um shopping center em bando. Cantando, gritando, ocupando a praça de alimentação, subindo nas mesas, trancando corredores.

Cena 2: milhares de jovens, em sua maioria mestiços de classe baixa, adentram um shopping center em bando. Cantando, gritando, ocupando a praça de alimentação, utilizando as escadas rolantes no sentido contrário, trancando corredores.
Ambas são reais. A primeira foi recebida com patrocínio de algumas lojas, rendeu vídeos “sem pavor” no YouTube e nenhum chamado às forças policiais. A segunda foi recebida com portas de lojas sendo trancadas às pressas, ainda com clientes dentro, vídeos “apavorantes” na internet com gritos de arrastão (não do grupo de jovens, mas acusação de terceiros) e requisição da PM para expulsá-los do local e impedir o ingresso, com ordem judicial.

Enquanto uma é relativa aos calouros da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) e ocorre desde 2007, a outra é conhecida como “rolezinho”, inicialmente organizada por jovens da periferia como ponto de encontro para diversão daqueles que veem na TV, diariamente, que não há lugar melhor na cidade do que o shopping center. Como pano de fundo, apenas os primeiros possuem poder aquisitivo para compras volumosas. Mas nenhum deles foi para lá com o intuito de consumir. Ambos buscavam apenas diversão.

Por mais que se queira justificar a reação como medida de segurança, tal ação tem por trás o preconceito cultivado contra qualquer pessoa que tenha “cara de favelado”. “Mas são eles que comentem crimes, que nos roubam diariamente”. Não. São alguns deles que o fazem, e apenas estes devem receber o rigor da lei. Assim como todos os empresários de classe média alta e políticos (em sua maioria brancos) que sonegam impostos e desviam verba pública. Quantos são proibidos de ingressar nos shoppings? Pelo contrário, recebem tratamento VIP.

Pode-se contestar que normas de conduta dos estabelecimentos seriam desrespeitadas. Porém, ainda assim não se pode negar o ingresso (punir) sem que a pessoa tenha cometido tais infrações. Isto é um princípio básico da Lei Brasileira e de convivência em sociedade: ninguém é culpado até prova em contrário. E é exatamente isto que está ocorrendo ao proibirem a entrada deste pessoal: punir pela presunção de culpa futura. E o motivo desta presunção é o preconceito. Puna-se quem cometer, mas somente os que - e se! - cometerem, não o coletivo antes mesmo de qualquer infração ter sido praticada. Até porque todas as alegadas “infrações de normas de conduta” (lembre-se que não houve roubo/furto) também ocorreram com o pessoal da FEA-USP, mas estes não foram postos “porta-à-fora” à pancadas nem dispersados com balas de borracha.

Outro argumento em defesa de proibir o ingresso é o de que os shoppings seriam espaços privados, cabendo aos proprietários definir quem pode e quem não pode entrar. Ora, restaurantes são espaços igualmente privados e nem por isso podem negar o ingresso de negros somente pela cor da pele.

Por fim, é bom lembrar a cronologia da cobertura da mídia em relação aos rolezinhos, onde mais uma vez fica evidente o caráter preconceituoso da percepção destes. As primeiras notícias, geradas com base em relatos de frequentadores dos shoppings e vídeos publicados na rede, anunciavam o ocorrido como “arrastão”: caso de polícia. Logo depois, os poucos veículos de comunicação que se prestaram a buscar informações com os comerciantes e policiais envolvidos descobriram que absolutamente nenhuma loja/frequentador havia sido furtada(o). Nenhum roubo foi registrado. Nos casos em que houve quebra-quebra, este se deu somente após a violência dos seguranças e policiais sobre os participantes.

“Mas vai esperar acontecer?”. Não, vai esperar pra ver se é que vai acontecer. Devem reforçar a segurança sempre que julgarem necessário, mas jamais punir de antemão com proibição de acesso discriminatório.
É interessante pensar que, enquanto nas favelas do Rio a polícia foi requisitada para garantir o direito de ir e vir, retirando este controle dos “donos do morro”, nos shoppings a PM é chamada para limitar o mesmo direito, sob controle do estabelecimento.

Apresentação. Por quê?

Sempre gostei de escrever.
Comecei arriscando umas poesias aqui e ali, lá pela 6a-7a série do Ensino Fundamental (idos de 1996, faça a conversão para a seriação atual).

Mas textos mais longos, com visão de mundo e análise crítica de situações, só comecei a gostar no então Ensino Médio. Graças a dois professores de História: Miguel e Celso. Muitas vezes me faltou espaço para as respostas nas provas deles. Detalhe: até então, História era uma das matérias que eu tinha maior repulsa. Culpa do estilo de ensino dos professores que tive no Ensino Fundamental, que não me atraia, me afastava.

O Orkut, febre de alguns anos atrás no Brasil e hoje substituído por muitos (inclusive por mim) pelo Facebook, foi um mundo novo. Através das comunidades, passei a escrever ativamente. Futebol e Samba/Pagode eram as comunidades que eu frequentava assiduamente, debatendo constantemente com pessoas que nunca vi na vida. Em um destas cheguei a ser convidado a participar do grupo de moderadores, em função da minha participação e estilo de comentários. É estranho olhar pra trás e lembrar do orgulho que senti com este convite, que veio dos próprios participantes da comunidade. Foi também através de lá que tive minha primeira - e até a criação deste blog aqui - experiência como "blogueiro". Graças ao criador do Blog Gigante Colorado, Rodrigo Mota. Outra experiência muito gratificante. (A estrutura das comunidades do Orkut foi uma perda grande nesta migração para o Facebook, cujo foco principal é nos perfis individuais e não nas comunidades, embora esta existam mas com estrutura muito distinta. Mas isto é assunto para um texto à parte.)

Participei de fóruns de diversos temas, desde configuração de aparelhos eletrônicos (onde também fui convidado a integrar o corpo de moderadores) até desenvolvimento de jogo eletrônico - Widelands -, do qual ajudei na tradução ao português. Minha tese de doutorado fui uma experiência e tanto. Com direito a comentários sobre o tamanho/estilo do texto de agradecimentos. Não foi um parágrafo. Nem dois. Ao ponto de ter que cuidar com o tamanho das minhas frases, já que apesar do meu gosto pela escrita nunca tive um treinamento adequado e nunca busquei tal instrução.

Dar aula. Ah, dar aula. Muitos sentem um alívio tremendo por conseguir bolsa de pós-graduação do CNPq ao invés da Capes, pois a segunda exige estágio docente, enquanto a primeira não. Pois eu fui agraciado com a bolsa do CNPq, fruto de ter ingressado na pós-graduação do Instituto de Física da UFRGS em primeiro lugar. Para a surpresa de muitos, fiz o tal Estágio Docente. Lecionei na disciplina de Métodos Computacionais da Física I, sob supervisão do meu orientador de doutorado Sebastián Gonçalves (que possui um capítulo à parte na minha história). Che, que coisa incrível que é dar aula! A sensação de estar participando ativamente do crescimento de outros, de estar compartilhando o teu conhecimento.

Porque, na verdade, o que está por trás de meu gosto de escrever é justamente a troca de informação. É a paixão pelo debate, pela conversa, pela interação. Sabe aquele sujeito que se atrasa para um compromisso pois ficou conversando com o porteiro do prédio? Aquela figura que tu levas para uma reunião de amigos onde ele não conhece ninguém e, quando vês, ele está no meio de uma roda dando gaitada (che, se tu não sabe o que é gaitada, busca o dicionário de gauchês. Leitura mais do que recomendada se pretendes ler meus textos. Esta fica de inhapa: gaitada=risada) e dê-lhe papo como se conhecesse o povuero há anos? Prazer, Marcelo.

Eis que me mudo pra Boston, MA, EUA, para realizar pós-doutorado na Northeastern University, no MoBS-Lab. Qual não é minha surpresa quando recebo o convite da Shirley Farber, da Bate Papo Magazine, para escrever um artigo nesta revista? O tema era as manifestações populares que se iniciavam no Brasil, que contaram com "manifestações de apoio" de Brasileiros espalhados em vários países, inclusive em Boston. Desde então, escrevi sobre este tema, sobre o programa Mais Médicos, lançado em 2013 e sobre os tais "rolezinhos" (os textos na íntegra, assim como o sítio eletrônico para a edição da revista serão colocados aqui em publicações separadas). Também tive o prazer de participar do programa Bate Papo com Shirley, edição 158, onde conversamos sobre a minha pesquisa em Boston e assuntos diversos.

Buenas, chegou a hora de começar a juntar todo este material e ter um lugar onde manter futuros textos. E é este o motivo da criação deste blog. Este texto todo era só pra dizer isto, basicamente. Não prometo assiduidade, não garanto atualização a cada "x" dias. Será atualizado quando tiver que ser atualizado. Isto é, quando eu escrever alguma coisa em algum lugar (Facebook, fórum, revista, ...). É possível que eu também o utilize para divulgação de textos de outras pessoas que eu ache interessante. Sintam-se encorajados a oferecer material.

Vamos ver no que dá...

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

"Resumão" do Facebook

O tal video feito pelo próprio Facebook comemorando os 10 do "Cara-livro", com retrospectiva da minha atividade por lá:
https://www.facebook.com/photo.php?v=10151988630827599

Dá pra ter uma vaga (bota vaga nisso) ideia de algumas das coisas que me fazem seguir nessa jornada. Note a intersecção entre a minha descrição aqui no Blog e as imagens que aparecem no video. ;)